A contradição entre faturamento e precarização da saúde no trabalho na Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda.
Saúde do trabalhador, CSN, Relações de trabalho
A presente pesquisa de mestrado, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), propõe uma análise crítica das relações entre saúde e trabalho no contexto da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), localizada em Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro. A investigação parte da constatação de uma contradição significativa: enquanto a CSN obteve, entre os anos de 2019 e 2022, recordes de faturamento impulsionados pela valorização do dólar e pelo aumento da demanda por aço, seus trabalhadores enfrentaram crescentes processos de precarização, intensificação do ritmo de trabalho e exposição a riscos ocupacionais que impactam negativamente sua saúde física e mental.
A partir do referencial teórico marxista e das contribuições da Medicina Social Latino-Americana, especialmente dos trabalhos de Asa Cristina Laurell, busca-se compreender como a lógica de valorização do capital, centrada na extração da mais-valia, intensifica a degradação das condições laborais. O estudo se ancora também nas formulações de autores como Ricardo Antunes e Giovanni Alves, que apontam a existência de uma precarização estrutural do trabalho, evidenciada na CSN por jornadas exaustivas, terceirizações e negligência em medidas de segurança.
A pergunta que orienta esta investigação é: quais os impactos das atuais condições de trabalho na saúde dos trabalhadores da CSN? Para respondê-la, será conduzido um estudo de caso com base em entrevistas semiestruturadas e análise documental. Serão realizadas entrevistas com operários e operárias que atuaram na empresa entre 2019 e 2022, incluindo trabalhadores demitidos durante as paralisações de 2022, cujas mobilizações reivindicavam reajustes salariais, melhores condições de saúde e segurança, e o fim do banco de horas. O método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) será utilizado para análise dos depoimentos, permitindo captar a dimensão coletiva da experiência de trabalho e adoecimento.
A coleta dos dados ocorrerá em espaços reservados da OAB de Volta Redonda e, quando necessário, por videoconferência, respeitando condições de sigilo e conforto para os entrevistados. A análise dos relatos será complementada por um estudo documental de relatórios da própria CSN, dos dados do Instituto Aço Brasil e dos anuários do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE), com foco nas informações sobre produção, lucro, acordos coletivos e indicadores de saúde ocupacional.
A investigação adota uma abordagem qualitativa e crítica, cuja finalidade não é alcançar representatividade estatística, mas sim aprofundar a compreensão sobre os mecanismos sociais que determinam o adoecimento dos trabalhadores em um contexto de lucros recordes. A análise de conteúdo seguirá três etapas: pré-exploração do material, seleção e codificação dos trechos mais relevantes, e categorização dos dados à luz do referencial teórico. Espera-se que os resultados contribuam para o debate sobre as consequências da desindustrialização e da recolonização econômica brasileira sobre a saúde da classe trabalhadora, revelando as contradições estruturais do capitalismo contemporâneo.