ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DE UM SISTEMA HÍBRIDO DE GERAÇÃO DE ENERGIA SOLAR ASSOCIADA AO APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (RSU), PARA ATENDIMENTO DA DEMANDA DE ENERGIA ELÉTRICA DE CONSÓRCIOS MUNICIPAIS
Geração Híbrida; Resíduos Sólidos Urbanos; Energia Fotovoltaica; Autoprodução; Mini e Micro Geração Distribuída; Créditos de Carbono.
No cenário global de transição energética, a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis é fundamental. No Brasil, embora a matriz energética seja majoritariamente renovável, a dependência das hidrelétricas — responsáveis por cerca de 59% da geração — e a recente crise hídrica impulsionam a busca por outras alternativas. Nesse contexto, as usinas híbridas, que combinam diferentes fontes de energia, surgem como uma estratégia eficiente para diversificar a matriz elétrica nacional, destacando-se a energia solar e a geração a partir de resíduos sólidos urbanos (RSU), ainda pouco explorada.
Outra importante estratégia de apoio à transição energética é o desenvolvimento de instrumentos de planejamento que reconheçam os benefícios socioambientais das fontes limpas, como o mercado de crédito de carbono no setor elétrico. Este mecanismo permite a precificação e comercialização das emissões evitadas de CO₂, promovendo maior competitividade para projetos sustentáveis.
Assim, esta pesquisa analisou a viabilidade técnica e econômica da geração híbrida de energia por meio da incineração de RSU associada à energia fotovoltaica, voltada ao atendimento da demanda elétrica de consórcios municipais, considerando também a comercialização de créditos de carbono. Foram avaliados quatro cenários distintos de manejo dos RSU do Consórcio Intermunicipal de Municípios do Alto Sapucaí para Aterro Sanitário (CIMASAS), variando os percentuais de reciclagem de materiais secos e orgânicos conforme as metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos.
A análise econômica contemplou dois modelos previstos na regulação brasileira: Autoprodução (APE) e Mini e Micro Geração Distribuída (MMGD). Indicadores como Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Tempo de Retorno do Capital (PAYBACK) e Custo Nivelado de Energia (LCOE) foram calculados. Os resultados demonstraram viabilidade técnica e econômica para a geração híbrida proposta, com crescente atratividade conforme aumentam os índices de reciclagem: VPL e TIR sobem, enquanto o PAYBACK diminui.
A modalidade APE apresentou melhor desempenho econômico em comparação à MMGD. Em média, o VPL foi 49,10% superior na APE, a TIR 21,66% maior, o PAYBACK 51,68% menor e o LCOE 40,80% inferior. A inclusão da receita proveniente dos créditos de carbono acentuou ainda mais a atratividade: na APE, o VPL aumentou em média 47,33%, a TIR 24,09%, enquanto o PAYBACK e o LCOE reduziram-se em 28,17% e 40,57%, respectivamente. Na MMGD, os ganhos foram ainda mais expressivos: elevação média de 134,99% no VPL, 39,46% na TIR, e redução de 38,61% no PAYBACK e 36,98% no LCOE.
Esses resultados evidenciam que a valorização ambiental na geração de energia fortalece a atratividade econômica das usinas híbridas renováveis, contribuindo para acelerar a transição para uma matriz de carbono zero.