Energias hídrica, eólica e solar no Brasil: Mudanças projetadas pelos modelos climáticos do CMIP6
Desenvolver a matriz energética renovável na América do Sul (AS) é fundamental para um crescimento socioeconômico sustentável e mitigação dos efeitos de mudanças climáticas. Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar as mudanças projetadas em variáveis climáticas e geração de energia eólica e solar na América do Sul, especialmente no Brasil, utilizando simulações e projeções de oito modelos climáticos globais do CMIP6. Entre as variáveis estudadas estão a precipitação, vento a 100 m, densidade de potência eólica a 100 m, irradiância solar à superfície, energia solar concentrada e potencial de energia fotovoltaica. Os objetivos específicos incluíram aplicar técnicas de correção de viés e downscaling estatístico pelo método Quantile Delta Mapping (QDM), identificar eventos de seca hidrológica, analisar mudanças no ciclo de vida do Sistema de Monção da AS e mapear regiões favoráveis para geração de energia eólica e solar ao longo do século 21. Em geral, a técnica QDM mostrou-se eficaz em reduzir erros sistemáticos dos modelos climáticos globais do CMIP6, melhorando a representação dos campos sazonais e espaciais. Resultados mostram um aumento de precipitação no verão na maior parte do Brasil nas próximas décadas, intensificando-se após 2060, enquanto no outono há um aumento de até 20% a partir de 2080 em algumas regiões brasileiras. No inverno e primavera, projeta-se redução de precipitação em várias áreas do Brasil. A frequência, duração e severidade das secas hidrológicas aumentarão, especialmente nas regiões Norte e Sudeste do Brasil, com um aumento de eventos de seca extrema. As regiões tradicionalmente favoráveis à geração de energia eólica, como Nordeste do Brasil, Argentina e Uruguai, continuarão promissoras, com um aumento significativo na densidade de potência eólica a 100 m até o final do século. Em termos de energia solar, projeta-se um aumento no potencial de energia solar concentrada e fotovoltaica na maior parte do Brasil, com variações sazonais e regionais. Durante o verão, o aumento na energia solar concentrada pode chegar a 4% no Norte e Sul do Brasil até 2060, e no inverno, o potencial de energia fotovoltaica deve aumentar em várias regiões brasileiras. Em suma, observa-se uma tendência de aumento na precipitação durante o verão e outono e redução no inverno e primavera, além de um atraso no início da monção da AS e uma redução na duração da estação chuvosa. A geração de energia eólica e solar na AS, especialmente no Brasil, tende a experienciar condições favoráveis ao seu crescimento ao longo do século 21, apesar de variações regionais significativas. Tais resultados de projeções contribuem para o planejamento e desenvolvimento sustentável da infraestrutura energética na AS.