Estrutura Integrada para Avaliação Completa de Usinas Subterrâneas de Bombeamento e Armazenamento de Energia
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Há uma crescente demanda mundial pela eliminação ou, ao menos, pela drástica redução do consumo de combustíveis fósseis, o que pode contribuir para a diminuição do efeito estufa. Nesse contexto, fontes renováveis como a eólica e a solar fotovoltaica têm crescido exponencialmente em diversos países. Mesmo com a predominância das usinas hidrelétricas, o Brasil também apresenta um rápido crescimento dessas novas fontes de geração de energia elétrica, em grande parte graças aos subsídios oferecidos pelo Governo Federal. No entanto, a intermitência dessas fontes, que dependem diretamente das variações na velocidade do vento e da radiação solar, é uma característica indesejável que precisa ser superada por meio do armazenamento de energia. Graças ao grande volume de armazenamento disponível nos reservatórios das usinas hidrelétricas, o sistema elétrico brasileiro tem funcionado sem necessidade de outros tipos de armazenamento. Contudo, esse volume é finito e, devido a barreiras socioambientais, a construção de novos reservatórios é inviável, o que reforça a necessidade do desenvolvimento de outras tecnologias de armazenamento.
Como alternativa viável, a construção de reservatórios subterrâneos, ou ainda, de forma mais otimizada, o aproveitamento de minas desativadas ou cavernas naturais para a implementação de Usinas Subterrâneas de Bombeamento e Armazenamento de Energia (Underground Pumped Storage Hydropower – UPSH), surge como uma solução promissora em relação aos bancos de baterias, que também enfrentam limitações ambientais e econômicas. O objetivo principal desta tese é chamar a atenção da comunidade acadêmica, dos tomadores de decisão, dos planejadores setoriais, dos empreendedores e dos governos para o estudo, a compreensão e o desenvolvimento da tecnologia UPSH, demonstrando sua viabilidade técnica e econômica, especialmente no Brasil, onde há abundância hídrica e muitas minas subterrâneas profundas desativadas.
Para isso, foi realizada uma revisão abrangente da literatura, da legislação e das regulamentações, a fim de apresentar um arcabouço integrado para avaliação geral do UPSH. Esse arcabouço é composto por cinco fases: prospecção, projeto, plano de negócios, implementação e descomissionamento. Na fase do plano de negócios, foram propostas inovações como empilhamento de receitas (revenue stacking), leilão combinatório (combinatorial auction) e novos modelos para a regulação econômica de sistemas de armazenamento de energia (ESS). O modelo proposto foi aplicado em dois estudos de caso. O primeiro demonstrou a viabilidade técnica e econômica de um µUPSH de 500 kW e 1500 kWh, utilizando o lago do campus da Universidade Federal de Itajubá e classificado como Geração Distribuída no Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE). O segundo validou a viabilidade de um UPSH ultraprofundos no Lago Mundaú (AL), com 1000 m de profundidade, 500 MW de potência e 1 GWh de capacidade, utilizando a regulação econômica proposta nesta tese e complementada pela regulamentação de usinas hidrelétricas e minas subterrâneas.
Conclui-se que a tecnologia UPSH é tecnicamente e economicamente viável, mas ainda carece de legislação e regulamentação específicas que ofereçam segurança jurídica aos empreendedores. Estudos complementares são necessários para consolidar a proposta regulatória apresentada e permitir comparações com outras tecnologias de armazenamento de energia.